Rafael Martins (“Wou” na comunidade) se apaixonou por jogos de luta ainda garoto, um flash de nostalgia ao ouvir uma música de fliperama, um personagem de quimono branco que “ficou na cabeça”. Essa paixão evoluiu, atravessou Atari, Master System e culminou em The King of Fighters 94, seu marco definitivo.
Hoje, esse sentimento molda o projeto Super Crazy Jam, um crossover no estilo KOF que existia apenas em rascunhos e agora ganha vida com vigor renovado.
Como começou sua relação com os games?
Rafael: “Fazia judô, passei por um fliperama. Ouvi aquela música empolgante, vi um personagem de quimono branco igual ao meu, era Ryu. Voltei pra casa com a música na cabeça e uma vontade absurda de jogar aquilo.”
Teve contato com videogame ainda antes disso?
Rafael: “Tenho flashs bem leves de uns 2 ou 3 anos, quando meu pai trouxe um Atari. O que lembro mesmo com detalhes foi receber um Master System com Alex Kidd. Depois de poucos pixels, ver gráficos coloridos e detalhes foi mágico.”
Alex Kidd
E quando veio a paixão por KOF?
Street Fighter II dominou até 1994. Aí veio Double Dragon, mas The King Of Fighters ’94 foi explosivo, escolher três personagens, Ryo enfrentando Terry, foi doido pra época! Dentre todas as versões, o 2002 é imbatível. Por isso meus personagens são baseados nele.
Como surgiu o contato com o Mugen?
No colégio, Rafael idealizava crossovers como Ryu vs Kyo. Com seu primeiro PC em 2001, criou gifs simulando isso. Um amigo comentou sobre “Mugen 13”. “Descobri que era uma engine e que já podia baixar personagens. Foi mágico.”
Quais foram seus primeiros passos nessa comunidade?
Em 2003, entrou no fórum MGBR e começou a criar stages, originalmente vislumbrava um SNK vs Capcom estilo próprio, mas o SvX Chaos aparece e ele lamenta. “Na comunidade sou Wou. Fiz um Ryu estilo KOF, ficou tosco, mas tenho orgulho.”
Quais foram as dificuldades iniciais?
“Tutoriais ruins, internet discada, respostas só no fim de semana. Até hoje sinto dificuldades em programar.” Mesmo assim, criou cerca de 30 stages e diversos personagens: Ryu SNK Style, Leon, Logan, Sub-Zero, Alex Kidd, Kratos — todos em “KOF Style”.
Projetos lançados?
Lançou SNK vs Capcom ano passado, o projeto de 2003 concluído quase 20 anos depois. Agora lidera Super Crazy Jam.
Qual é a proposta do Super Crazy Jam?
Surge há 15 anos, mas agora materializa o universo KOF Style, unificado, colorido, fiel ao visual SNK. A primeira “season” traz 10 personagens, um boss e 11 cenários. A próxima incluirá 4 personagens (3 já existentes e um inédito).
Mugen carece de inovações gráficas? Há espaço para novidades?
“Novidade é sempre bem-vinda. Adoraria stages 3D nativos no Mugen, ou personagens 2D misturados com 3D, seria divertido.”
Tem preferência por screenpacks ou chars de destaque?
“Adorei o screenpack KOF Wing: bem trabalhado e cheio de opções inovadoras. Sobre char, destaco a Lucy Fernandez KOF Style do On-Off: golpes bem balanceados e pensados.”
Existe rivalidade na comunidade Mugen?
“Não de forma ampla. Vejo picuinhas isoladas, mas nada estruturado.”
Por que o Mugen resiste ao tempo?
“A infinita liberdade da engine permite criar qualquer coisa. Agora com o Ikemen Go, jogar online motiva muito mais os criadores.”
Qual conselho você daria a novos makers?
“Tente encontrar motivação. Isso te faz voltar pra casa ansioso para terminar seu projeto. Foi o que me impulsionou no último ano.”
E novos projetos, o que vem por aí?
“Estou focado no Super Crazy Jam, um projeto antigo que renasceu após 12 anos. Também adoraria ver chars de outras franquias em estilo KOF, Master Chief, Marcus Fênix ou Bayonetta seriam bem-vindos.”
Quem te inspira na comunidade?
Em programação, admiro Ikaruga e lucas9999. Em sprites, destaco On-Off (por seus trajes fatais), Metal Warrior, e ALThedge, o melhor animador KOF Style que já vi. Recentemente, Rafael Wou mostrou um possível projeto futuro: Anderson Silva KOF Style. Vamos aguardar.
Conclusão
A trajetória de Rafael Martins, do encanto por música de fliperama à criação de Super Crazy Jam, é um retrato vivo da paixão gamer que atravessa décadas. No cruzamento entre nostalgia e inovação, Wou conduz seu legado no Mugen/Ikemen Go, mantendo viva a cultura dos crossovers em estilo KOF.