O paulista Felipe Xavier de Freitas, conhecido na comunidade como FXFreitas, teve seu primeiro contato com o Mugen através de um amigo. “Foi um jogo de luta bem quebrado e com personagens de diversos games”, relembra.
A curiosidade logo o levou a explorar mais compilados, como Naruto Way Of The Ninja, Mortal Kombat Project e Mugen Fighting Jam.
Quando eu entendi o que era o Mugen, comecei a tentar importar as sprites que fazia para o jogo”, conta.
Felipe, que hoje tem 26 anos e mora em Poá (SP), se define mais como artista do que programador. Sua especialidade é a criação de sprites originais.
Os conceitos eu prefiro criar do zero. Porém tem muita coisa que é feita sobre outros personagens, animações inspiradas. Tudo devidamente creditado. Mas uma animação feita do zero tem muito mais personalidade”, afirma.
Suas primeiras lembranças com games remetem aos clássicos do Atari, como Hide and Seek, Enduro e Hero. “Console este que eu acredito até hoje estar perdido em alguma caixa na casa da minha tia”, lembra com saudosismo.
Nos jogos de luta, os títulos que marcaram foram Real Bout Fatal Fury Special e Tekken 3.
O início da criação de sprites
Ao mergulhar no Mugen, Felipe percebeu que programação é um requisito básico para qualquer criador. “É importante também lidar com as limitações da engine. Coisa que, com um pouco de dedicação, é superada. Mas não é nada muito impossível. Não é à toa que tanta gente usa o Mugen”.
Quando o trabalho ficou mais sério, surgiu a necessidade de levantar fundos para desenvolver sprites, principalmente em fangames.
Ele explica: “A comunidade trata o Mugen como algo que não deve dar dinheiro. Infelizmente, isso atrasa e até impossibilita criadores de usar a comunidade para conseguir pagar artistas e programadores. É diferente quando você tira do seu bolso, mas levantar fundos de outras pessoas não é fácil no Mugen”.
Entre tantas criações, o destaque de FXFreitas são as expansões de Fighting Arena. “São sprites bem completos, com uma qualidade boa e que foram muito bem recebidas. Antes delas a qualidade da minha pixel art era muito inferior”.
Conversa com FXFreitas
The Crab Games – Entre tantos trabalhos que surgem no Mugen, o que você gostaria de ver de novidade? FXFreitas – É uma pergunta difícil porque o Mugen já tem quase tudo. Eu gostaria de ver o Zero do JKA e do Ramza finalizado. Ou personagens como os da Caverna do Dragão.
The Crab Games – Algum screenpack preferido? FXFreitas – Eu gosto do clássico H-Loader.
The Crab Games – E um personagem favorito? FXFreitas – Eu elegeria o Goku do maker Xande. A qualidade das animações dele é bem impressionante, apesar do personagem em si ser simples. Também gosto muito do que o Alex fez com a Alia e a Iris, apesar das versões finais não estarem com o público.
The Crab Games – Qual sua visão sobre personagens em HD e trabalhos em 3D no Mugen? FXFreitas – Acho que 3D e Mugen não se encaixam tão bem. Até dá pra fazer um trabalho legal, mas a engine não foi feita pra isso. Vira uma gambiarra que pesa bastante. Existe até um projeto que tenta ser o Mugen dentro da Unreal Engine, talvez esse seja o caminho. Mas é difícil algo alcançar o peso que o Mugen tem nos jogos de luta.
Comunidade e inspirações
Para Felipe, a comunidade Mugen não é desunida, mas formada por nichos que, às vezes, entram em conflito. “Se eu precisar de suporte sobre algum código e perguntar no fórum ou no Discord da Mugen Guild, não vai demorar para eu ter uma resposta completa. É como qualquer comunidade: o Mugen também tem suas desavenças, principalmente sobre copyright e a licença não comercial da engine”.
Ele também valoriza os artistas que vieram antes e os que cresceram junto com ele. “Da geração anterior, o Danny Flexer (blackbeltdude) e o Robert Oakes eram destaques. Da minha geração tem o grande Saturn, que continua ativo fazendo sprites incríveis. Tem o Faku também, que até hoje auxilia a gente. Não tem uma spritesheet que fizemos que não carrega o nome dele”.
Além disso, destaca os jovens artistas que surgem na cena. “Agora, artista grande e famoso é difícil ser específico. Eu trabalho com o estilo da Capcom do PS1, mas também tenho inspiração em sprites mais carrancudas da SNK”.
Conclusão
De Atari ao Mugen, FXFreitas construiu uma trajetória que mistura paixão, técnica e identidade. Suas sprites carregam não apenas pixels, mas também histórias de dedicação e amor pelo universo dos jogos de luta.