Os brasileiros têm uma relação única com os Tokusatsus. Desde a chegada de National Kid em 1964, heróis como Jaspion, Jiraya, Changeman e Jiban marcaram gerações. Esses personagens, com seus efeitos especiais ousados para a época, também encontraram espaço no universo do Mugen, a famosa engine de luta 2D.
Mas quem trouxe Jaspion para dentro do Mugen de forma marcante foi um criador brasileiro: Herbert, ou simplesmente Beto, conhecido na cena como Beto SSJ4. Nesta entrevista, ele relembra sua história com os games, os desafios de criar personagens, sua relação com a comunidade e o impacto de suas criações.
As primeiras lembranças com os games
Beto conta que nunca teve um videogame em casa. Seu contato inicial veio das locadoras e fliperamas, onde títulos como Street Fighter e Mortal Kombat eram febre.
Eu comecei mesmo a jogar nos fliperamas, já na adolescência. Meu primeiro jogo de luta foi X-Men: Children of the Atom, mas foi com Marvel Super Heroes que fiquei vidrado. Até hoje considero um dos melhores jogos da Capcom.

Além dos jogos de luta, os beat ’em ups também marcaram sua infância. “Joguei muito X-Men Arcade, Captain Commando, Alien vs Predator. Depois mergulhei em séries como Real Bout Fatal Fury e SNK vs Capcom. Tudo isso influenciou minhas criações no Mugen.”
O encontro com o Mugen
O primeiro contato veio por meio de um colega de escola, mas Beto só começou a explorar a engine dois anos depois, quando ganhou seu primeiro computador.
Eu sentia falta de personagens como Jaspion, He-Man e Lion-O nas compilações. Foi aí que resolvi colocar a mão na massa.
Após dois anos fazendo pequenas edições, ele se aventurou nos sprites e lançou seus primeiros WIPs em 2013: Dark Wolverine, X-23, Coruja e Jaspion.
Acabei cancelando alguns projetos e segui com Jaspion e Dark Wolverine. Criar sprites foi a parte mais trabalhosa, mas também a que mais me desafiou.
O sucesso do Jaspion no Mugen
Beto lembra que o impacto do personagem foi maior do que ele esperava.
O Jaspion foi um dos personagens mais acessados no Mugen na época. Meu vídeo chegou a 25 mil visualizações, com quase 6 mil downloads. No Facebook, teve vídeos de batalhas que alcançaram até 100 mil visualizações. Muita gente entrou no Mugen por causa dele.
O destaque, porém, trouxe também críticas. Alguns alegavam que seus sprites eram “apenas edições da Capcom”.
Era frustrante ouvir isso, porque havia muito trabalho envolvido. Mas faz parte da cena.
Projetos cancelados e futuros
Inicialmente, Beto sonhava com um crossover reunindo Jaspion, He-Man e Lion-O, mas cancelou o projeto devido a compilações não autorizadas. Hoje, segue ativo com novas ideias.
Estou desenvolvendo o Mumm-Ra e também o Mugen Paypal Project. Esse último começou como uma forma de financiar o tratamento do meu pet. Infelizmente ele se foi, mas mantive a ideia.
Entre os planos futuros estão Spider-Gwen e X-23, via financiamento coletivo.
O processo de criação
O primeiro passo é o sprite zero, a base para os outros sprites. Também é importante ter os golpes definidos. Eu misturo várias bases e crio partes do zero para evitar que o personagem pareça apenas um cosplay. Já cheguei a criar um personagem só no mouse, como o Superman em estágio beta.
Bastidores da comunidade Mugen
A cena nem sempre é amigável.
Existem muitas coisas negativas nos bastidores, mas o melhor é manter o foco. Apesar dos problemas, a comunidade mantém o Mugen vivo, e isso é o que importa.
Beto acredita que o futuro está no Ikemen, evolução direta do Mugen.
O Ikemen já traz recursos como Tag Team nativo. Penso sim em migrar, mas seria importante existirem tutoriais acessíveis para novos criadores.
Preferências e inspirações
Quando questionado sobre seus favoritos, Beto não hesita:
Conclusão
Com personagens marcantes como Jaspion e Dark Wolverine, Beto consolidou seu nome entre os criadores mais lembrados da comunidade. Mesmo enfrentando críticas e desafios, ele segue expandindo seu legado no Mugen — agora mirando também o futuro no Ikemen.
“O emprego de uma habilidade não precisa de permissão. Os artistas fazem isso todos os dias. O importante é manter o conteúdo vivo para as próximas gerações.”

